Enquanto isso, no centro da cidade, Alfredo procura Paulo, o advogado...
Alfredo: Dr. Paulo?
Paulo: Sim, bem na hora, sente-se, por favor!
Alfredo: Ouvi dizer que é o melhor advogado da atualidade e que nunca perdeu nenhuma causa. Pena que não tem fama de barateiro!
Paulo: (risos) As pessoas não sabem como funcionam os percentuais e acabam falando essas coisas. Sabem muito menos que cansei de representar gente que estava desamparada e totalmente ignorante acerca de seus direitos, sem ter cobrado nada e tendo gastos.
Alfredo: Preciso que me defenda!
Paulo: O que está acontecendo?
Alfredo: Estou sendo acusado de um crime.
Paulo: Que crime?
Alfredo: Ter matado minha mulher!
Paulo: Sinto muito! Deve ser doloroso. Devo dizer que precisarei fazer perguntas sobre isso. Preciso saber se está em condições emocionais para falar sobre esse assunto de maneira mais aprofundada.
Alfredo: Sim, estou!
Paulo: Tudo bem! Primeiramente: Como e onde ela morreu? Com quem ela esteve e estava, e você onde esteve e estava no momento?
Alfredo: Ela morreu em casa com três tiros. Ela esteve num motel com um colega de trabalho, e eu, evidentemente, estava com ela no momento.
Paulo pára a anotação, tira os óculos, passa a mão nos cabelos, e olha para seu pretenso cliente...
Paulo: Está me dizendo que matou sua mulher?
Alfredo: Sim, por justa causa como pode ver.
Paulo: Sr. Alfredo! Lamento, mas não posso ajudá-lo. Deve procurar um defensor público, que é quem tem o dever de representá-lo nesses casos.
Alfredo: Mas ele não tem motivos para me defender!
Paulo: Tem sim! Aliás, somente ele tem. Estou certo de que fará tudo para que seu julgamento seja justo.
Alfredo: Não acredito num julgamento justo nem em um defensor que fará o que é obrigado simplesmente. Verão a mim como mero assassino e me condenarão à pena máxima como sempre acontece. Quero alguém que mostre que agi com motivos justificáveis... ainda que o ato tenha sido errado. Estou disposto a pagar muito bem por minha defesa.
Paulo: Lamento Sr. Alfredo! Mas nem eu e nem ninguém que eu conheça aceitará seu caso não importa o quanto esteja disposto a pagar. Meu conselho, é que confie em seu defensor público e no juiz, que só está nesse posto por ter, com muita dificuldade, provado conhecimentos e virtudes de merecimento. E sabe que muitos se preparam anos, estudam, tentam, mas não conseguem.
O juiz é alguém que têm uma preparação e bagagem de vida invejável, conhecimento da natureza humana nas suas diversas origens, vivência psicológico-social e antropológica da realidade, dos submundos e faces diversas da sociedade.
E não só isso, ainda possui um senso de justiça e sabedoria únicos, razão pela qual muitos teoricamente preparados não conseguem atingir esse posto, é a falta desses raros e incríveis dons, já que as demais habilidades, qualquer um que tenha o devido suporte e preparação atinge. Estou dizendo isso, para que acredite que seu julgamento será justo independentemente de quem o defenda. Além disso, o defensor é alguém bem melhor preparado do que eu para um caso como o seu.
Terá um julgamento justo com toda a certeza, o que não quer dizer se livrar de qualquer tipo de punição ou forma de reparação ao seu ato, coisa que, ao meu ver, você mesmo deveria desejar.
Alfredo: Agora entendo por que jamais perdeu uma causa! Não aceita desafios! Vai apenas em causas ganhas e fáceis de vencer! Na minha profissão você morreria de fome!
Paulo: Não estou interessado no que chama de desafio. Nem estou interessado em ganhar causas apenas por ganhar, por dinheiro, ou para aumentar a fama do meu nome. Cada vez que eu assim fizesse, estaria ganhando um direito inexistente a alguém, o que pode não parecer tão ruim se a conseqüência disso não fosse que alguém, com um direito verdadeiro, estaria sendo lesado. Meu interesse é em desempenhar meu trabalho de maneira que as coisas aconteçam de forma justa. Trabalho para que direitos sejam conseguidos ou reconhecidos, e deveres e obrigações cumpridas. Não me preocupa o que pensa sobre minhas habilidades, nem penso em testá-la em algo que não seja o certo apenas para ver se consigo fazer com que o que é errado seja visto como certo aos olhos de um juiz, de um júri ou de quem quer que seja.
Não me preparei anos para provar falsamente que azul é vermelho, ou que vermelho é azul. Mas sim, para fazer valer a condição muitas vezes negada de azul do azul, e de vermelho do vermelho.
Alfredo: Após eu ser absolvido, direi a todos que recusou me defender.
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